| A alegria do Céu dentro de nós |
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| Meditemos sobre a paz que supera todo entendimento |
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| | Esta é uma meditação adaptada do livro Homilias para o Advento e o Natal, do Padre Paulo Ricardo, lançamento da Editora Padre Pio, e o primeiro volume de uma série que cobrirá todo o ano litúrgico. Este é o domingo da alegria, ou Domingo Gaudete. Na antífona de entrada cantamos: “Alegrai-vos sempre no Senhor”, trecho tirado da Carta de São Paulo aos Filipenses, que reaparece na Segunda Leitura. É interessante notar que toda a Liturgia da Palavra deste domingo tem tonalidades de alegria. A Primeira Leitura é do profeta Sofonias: “Canta de alegria, cidade de Sião”, é Jerusalém que tem de rejubilar, “alegra-te, exulta de todo coração”. O mesmo tom passa para o Salmo, que diz: “Exultai, cantando alegres, habitantes de Sião”.
A liturgia repete quase às marteladas: “Alegrai-vos, alegrai-vos, alegrai-vos”, até chegar por fim ao Evangelho, que parece introduzir uma nota destoante. Nele aparece João Batista e uma má notícia: “Eu não sou o Messias que está vindo. Eu batizo na água, mas Ele irá batizar no Espírito Santo com fogo”. Podemos ser otimistas, crendo que ele se refere ao fogo de amor do Espírito Santo. Todavia, ouçamos o que se diz em seguida, com toda a clareza: Cristo vai limpar a eira e lançará a palha no fogo inextinguível no Juízo universal.
João Batista parece o “desmancha-prazeres” dessa liturgia. Afinal, qual dos dois tem razão: o Precursor, ou as leituras que o precedem? Se olharmos com olhos de carne e de justiça, daremos mais razão ao Batista. Vejamos.
Peguemos as páginas do noticiário. Só o que se é vê morte, terrorismo, revoltas, rebeliões, revoluções, perseguições aos cristãos no mundo inteiro… Nas estatísticas da Igreja, nada muito animador: queda no número de batismos, de casamentos, queda na frequência à Missa, para não falar da qualidade dos que se metem na fila da Comunhão. Quantos serão os comungantes em estado de graça?… E a santidade no mundo?
Não é preciso ir longe. Olhemos para dentro de casa. Quanto desmando! quanto egoísmo! quanta briga! quanta confusão! quanto sofrimento que impede de dormir à noite!… Menos longe agora: olhemos para nós mesmos. Já tenho 54 anos de idade, 30 de padre, e até hoje há muito egoísmo arraigado dentro de mim! Parece que São João Batista tem razão. Não há por que se alegrar: ou vem o juiz com o fogo, ou não há mais conserto.
Na verdade, são dois lados da mesma moeda. Temos, sim, mais razões para nos alegrar que para nos entristecer: há maldade no mundo, mas sabemos que é sombra passageira. Podemos estar atravessando a pior tempestade; mas acima de tudo isso o sol brilha tranquilo.
O sol brilha! Talvez presenciemos um dia o maior dos crimes, a pior das guerras; mas os mártires e os santos que passaram pelo mundo traziam no coração, em meio a sofrimentos verdadeiros e atrozes, a alegria de saber que existe um Céu, luminoso e eterno. Essa é a alegria que o Evangelho nos traz hoje, a alegria de que Jesus virá para julgar, sim, mas para triunfar da injustiça e recompensar os inocentes. Depois que passar a luta trágica da história, veremos a glória bem-aventurada do Céu.
Já paramos para pensar no que será a felicidade do Céu?
Por ruim que esteja a meteorologia, o sol nunca vai se apagar por causa dela. Mais ainda: as galáxias e estrelas distantes nunca se vão apagar! Ainda padre jovem, quando contava os meus 30 anos, fui reitor de seminário e pároco de uma igreja no Pantanal.
Na época, eu tinha mapas para localizar estrelas, ver a Via Láctea etc., porque sempre gostei de contemplar as estrelas naqueles sertões do Pantanal mato-grossense, em Barão de Melgaço. Olhando as estrelas, lembrava-me do Céu, ou seja, do Céu em que está Nossa Senhora, em que estão os santos, porque as Escrituras nos recordam: “Brilhareis como astros no céu”. O Apocalipse, no capítulo 21, afirma que, quando descer a Jerusalém celeste, não será necessário sol nem luz, porque ela mesma brilhará.
Podemos estar sob as nuvens mais espessas; acima de nossas cabeças brilha uma luz imaculada. A nossa alegria é saber que as lutas deste mundo passarão e que a vitória não está garantida somente para o futuro: ela já está acontecendo. Sim, a vitória de Deus já acontece agora, porque no Céu brilham os santos, e com eles miríades e miríades, bilhões e trilhões de anjos maravilhosos, luminosos, gloriosos! Eis a alegria deste domingo.
Canta de alegria, cidade de Sião! Rejubila, povo de Israel, alegra-te, exulta de todo coração, cidade de Jerusalém, o Senhor revogou a sentença contra ti; afastou os teus inimigos. O rei de Israel, o Senhor, está no meio de ti e nunca mais temerás o mal. — Sofonias 3, 14s Ora, o que significa nunca mais temer o mal?
Nós, que vivemos ainda desterrados no mundo, fazemos parte deste povo que já está no Céu, e Deus quer que nos unamos a eles um dia. Alguém dirá: “Padre, eu não vejo que Ele esteja no meio de nós”. Mas está.
Imaginemos — é só uma comparação — que, enquanto estamos nas trevas, debaixo de nuvens horrendas, as galáxias luminosas, com trilhões de estrelas, estão todas no nosso coração. Sim, o Céu está dentro de nós; se estamos em estado de graça, a Santíssima Trindade habita em nosso coração, então Deus está no meio de nós. Podemos dizer com verdade: “Maria é minha, os santos são meus, Teresinha é minha, São José é meu, o Padre Pio é meu”! Não precisamos ir ao outro lado do oceano, escalar montanhas, subir o Himalaia para, além das nuvens, enxergar o sol que brilha. Não. O sol brilha dentro de nós. Isso é verdade de fé.
Pois bem, a nós, que estamos em luta, a Igreja diz e os santos atestam: ainda quando lutemos, se estamos em graça, o Céu já está presente em nós, de forma misteriosa mas real. Por isso canta o salmista: “Exultai cantando alegres, habitantes de Sião, porque é grande em vosso meio o Deus santo de Israel”. No meio de nós, ou seja, dentro de nós, há alegria. Mais do que isso: a razão da alegria cristã está dentro de nós. Tristeza, desânimo, abatimento, isso é só a superfície.
Dentro de nós, mais fundo do que podemos enxergar, habita Deus Trindade, e onde está a Trindade está o Céu, a glória dos santos, a Sião, a Cidade celeste. Tudo está em nós se nós estamos com Ele. Por mais tristes que nos sintamos, isso não passa da “casquinha” do que somos, porque dentro de nós há exultação de alegria.
Quem é batizado em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo com o sacramento do Batismo tem a Jerusalém gloriosa em seu coração. Por isso repitamos com São Paulo:
Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos. Não vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai as vossas necessidades a Deus, em orações e súplicas, acompanhadas de ação de graças. — Filipenses 4, 4.6 O que estamos vivendo? O que está acontecendo em nossa vida? O que nos tem dividido o coração? De que temos necessidade? Quem ainda precisa se converter em casa? Pois dirijamos a Ele orações e súplicas. Mas que essas orações e súplicas sejam acompanhadas de ação de graças. Mal saiu o pedido dos lábios, deve haver gratidão na alma, porque Deus está nos dando a certeza da vitória.
Ele nos quer vitoriosos! Perseveremos na luta! A paz de Deus não cabe em cabeça alguma. Onde está a paz? No Céu, na Jerusalém celeste. O Céu é maior do que possamos compreender; a felicidade da glória é maior do que possamos imaginar.
Ora, se não conseguimos imaginar sequer o universo, que é finito!… Em nossa galáxia há cerca de 100 bilhões de estrelas, e pelo universo estão espalhados outros tantos bilhões ou trilhões de galáxias! O universo não cabe na nossa cabeça. Mal sabemos o que é ter “um bilhão” de qualquer coisa. Se vivermos um bilhão de segundos, por exemplo, teremos vivido 35 anos. Ora, há 100 bilhões de estrelas na galáxia, e para alcançar a mais próxima levaríamos 7000 anos à velocidade máxima do veículo mais rápido já inventado pelo homem… Eis o tamanho do universo, que, apesar disso é finito, que, diante de Deus, não é mais que uma gota d’água. A glória das galáxias e das estrelas é como palha em comparação com a glória dos santos e dos anjos, glória que um dia será também nossa. Alegrai-vos, pois, alegrai-vos, não vos inquieteis com coisa alguma!
Voltemo-nos agora para a notícia que virá no Natal. Anjos enviados por Deus vieram a Belém a uns pobres pastores numa noite cheia de estrelas e disseram: “Anuncio-vos uma grande alegria que será para todo o povo: hoje nasceu para vós um Salvador”. Por que então ainda estamos preocupados? Temos de nos preocupar com a nossa salvação, porque o vosso amor, ó Deus, vale mais do que a vida. Essa é a alegria do cristão, a alegria do Domingo Gaudete.
A paz de Deus! Se tivermos essa verdade do Céu em nossos corações, teremos paz e nossos pensamentos estarão em Cristo, como diz São Paulo. Olhos fixos no Senhor! coração nele! O Céu enche-nos de alegria.
Alegrai-vos, alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos! |
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