O Advento caminho à conversão !!!

 O Advento nos chama à conversão!

 

Tempo de preparação para o Natal, o tema da liturgia é a vinda de Nosso Senhor. É um tempo de penitência, para que limpemos a casa e aplainemos o caminho para Cristo. Sem isso, o nosso coração dificilmente estará pronto para recebê-lo e, com Ele, buscar a salvação.

Como vem o Senhor ainda hoje às nossas vidas? A primeira parte do Advento se concentra na vinda de Cristo no fim dos tempos para o juízo universal. Embora pouco se fale disso, é essencial lembrar que Deus, além de nosso amigo e irmão, é também nosso supremo juiz.

Enquanto estamos neste mundo, vivemos o tempo da misericórdia, que se encerrará quando Cristo vier em sua glória para julgar os vivos e os mortos, inaugurando assim o tempo da justiça. Há quem veja nisso uma contradição com a boa-nova do Evangelho. Afinal, como conceber hoje, depois da revelação cristã, um Deus “justiceiro”? A solução simplória é: se Ele é amor e misericórdia, não irá pedir conta das nossas más ações, mas tratará a todos com suma “tolerância”.

Esse raciocínio supõe falsamente que justiça e misericórdia são atributos contrários. A verdade, no entanto, é que a justiça se contrapõe não à misericórdia, mas à injustiça. Dizer que Deus, por ser misericordioso, não fará justiça, seria dizer que Deus, por ser bom, fará algo mau, o que é absurdo.

O contrário da misericórdia não é a justiça, mas a inclemência, a crueldade; numa palavra, a falta de amor. Deus não é cruel nem inclemente, mas misericordioso, e manifesta seu amor de várias formas. Neste mundo, manifesta-o por sua paciência, dando-nos tempo para retornar ao caminho da vida antes de nos precipitarmos no abismo da morte eterna. O Advento é tempo de conversão, portanto é tempo de graça. Essas quatro semanas do Advento simbolizam, no fundo, o tempo que Deus nos dá ao longo da vida para prepararmos nosso juízo particular.

Assim como há tempo de misericórdia e tempo de juízo para cada homem, há também para a humanidade como um todo. Olhemos para a história. Quantas vezes os maus já foram glorificados? Tomemos, por exemplo, filósofos que sustentaram doutrinas errôneas, responsáveis pela perdição de muitos, e que, no entanto, são tidos como grandes pensadores. Quantas vidas foram destruídas pelas ideias de Freud, que “aboliu” a moral sexual? Ou então Kant, paladino do Iluminismo, que é um dos pais do ceticismo moderno. A partir dele, a humanidade veio de abismo em abismo. Todos foram tidos por “gênios da humanidade”.

Para reparar isso, Cristo virá fazer justiça. Grande será a vergonha dos que foram injustamente glorificados, aclamados como benfeitores do homem, quando, na verdade, levaram muitos para o inferno por suas ideias. Não é justo que eles sejam publicamente envergonhados? Não é justo que se apresente a falsidade de suas doutrinas? Talvez alguns deles, pelo milagre de uma contrição perfeita na hora da morte, tenham sido salvos. Não queremos tomar o lugar de Deus julgando as almas; mas podemos julgar doutrinas, e se estas foram glorificadas pelo mundo, é justo que, no fim dos tempos, esses erros sejam expostos à vergonha pública.

Por outro lado, doutores como Santo Tomás de Aquino, Santo Afonso de Ligório, São João da Cruz, Santa Teresa d’Ávila, Santa Teresinha do Menino Jesus e tantos outros santos e sábios que, pela graça de Deus, levaram milhões para o Céu, são hoje desprezados e ridicularizados pelo mundo. No entanto, eles serão exaltados no Juízo Final. Toda obra divina desprezada pelos homens brilhará no último dia.

Então veremos santos escondidos, que passaram a vida fazendo o bem e contribuíram para o triunfo da Igreja sem serem notados. É justo que, tendo vivido para Deus, eles sejam exaltados por Deus no juízo aos olhos do mundo que os ignorou. Se foram injustiçados, é justo que Deus os exalte e os torne conhecidos.

Todos deveríamos meditar sobre o Juízo Final, mas não há hoje assunto mais ausente dos nossos púlpitos… Não à toa, o Catecismo Romano aconselha aqueles que cuidam das almas a pregar sobre o Juízo Final, porque todos os justos, a certa altura da vida, se sentem “em crise” por verem a maldade e a vileza exaltadas, enquanto a justiça e a bondade são tratadas com desprezo.

Quem não se revolta vendo a exaltação da maldade? Por isso é necessário pregar a verdade: Deus virá, sim, julgar os vivos e os mortos, e o seu reino não terá fim. Todo aquele que, por amor a Ele, derramou lágrimas de fidelidade, será publicamente exaltado. Então se cantará a glória do Cordeiro imaculado. Uma multidão incontável entoará o grande Aleluia, a vitória e o triunfo final — triunfo do bem, da bondade, da verdade, da misericórdia!

Quantos misericordiosos não alcançaram misericórdia neste mundo, mas hão de alcançá-la no Juízo Final! “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados” (Mt 5, 6). E quando essa sede e essa fome serão saciadas? Quando virmos, enfim, a vitória de Deus. Eis a realidade que queremos meditar neste Advento, que nos remete à segunda vinda de Cristo.

Ora, falar da segunda vinda é falar do Juízo Final. E como será o fim dos tempos? Haverá primeiro uma grande tribulação na Igreja, que será terrivelmente perseguida. Haverá ainda um abalo cósmico, e então virá Nosso Senhor. Disto nos recorda o Evangelho: “Naquele tempo, haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas” (Lc 21, 25). O sol é Jesus, que irá perder o brilho; a lua é a Igreja, que se tingirá de sangue por causa das perseguições; as estrelas cadentes são um sinal da grande apostasia. Haverá de fato um abalo cósmico. No fim, sucederão a grande tribulação e, em seguida, o fim deste mundo: “Os homens vão desmaiar de medo” (Lc 21, 26).

E quem irá desmaiar de medo senão os que puseram a esperança no mundo? Como se manteriam de pé aqueles que, tendo depositado todas as suas fichas no mundo, o vissem ruir diante dos próprios olhos? Mas, aos que esperam em Jesus Cristo, o que há de acontecer?

“Ele virá sobre as nuvens e, quando essas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”
— São Lucas 21, 28

Não poderia haver maior contraste entre o medo dos que põem a esperança no mundo e a consolação dos que a puseram em Jesus. Todas as cabeças verão erguidas a libertação dos que esperaram em Cristo. Então se dará a vinda de Jesus, que se sentará para julgar os homens de todos os tempos.

Os homens julgam a história de maneira linear, como uma sequência de acontecimentos. Mas no julgamento final da história, tudo será julgado em sua relação com a eternidade e com o Céu. Tudo será levado em conta e lido à luz dessa realidade superior e eterna. Cristo virá julgar os vivos e os mortos — a história inteira —, e não só os que ainda estiverem vivos quando Ele voltar.

Ninguém sabe quando isso acontecerá. Deus reservou para si esse conhecimento. O fato é que já há dois mil anos a Igreja espera ansiosa esse dia. E em que isso influencia a nossa vivência do Advento? Influencia muito, se considerarmos que todos os momentos da vida serão julgados sob a luz da eternidade. Todos os momentos: seja a saúde ou a doença, a pobreza ou a riqueza. Compreendendo essa realidade, as coisas adquirem novo sabor.

Eis aí o critério para viver o Advento, que é este tempo de “ensaio” tanto para o juízo particular, quanto para o juízo universal, com a vinda gloriosa de Cristo. Para o primeiro, o que podemos fazer? Há na Igreja o piedoso costume, recomendado por santos e autores espirituais, de examinar, à noite, a própria consciência, como se cada dia fosse o último. Afinal, ninguém sabe se terá um amanhã para se emendar. Por isso, façamos o nosso “juízo final” todos os dias, para que o particular não nos tome de assalto.

Além disso, quando andarmos na rua, virmos o noticiário ou estudarmos as páginas da história, pensemos no juízo universal, pondo tudo sob a luz da eternidade, debaixo do olhar do Senhor. Os que hoje saem vitoriosos serão os derrotados, e os que hoje são derrotados sairão vitoriosos; os que hoje sorriem poderão estar chorando, envergonhados em sua confusão, enquanto os que agora permanecem firmes no amor a Cristo irão colher os frutos da recompensa que Deus lhes reservou.

Nos últimos versículos do Evangelho, o Senhor nos adverte:

“Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida”
— São Lucas 21, 34

Esses pecados nos afastam da clareza de julgamento e nos dividem interiormente. A vigilância e a oração, recomendadas por Jesus, são as armas para nos manter firmes: “Ficai atentos e orai a todo momento” (Lc 21, 36).

Peçamos a Deus a graça de viver o Advento com fé, preparando-nos para acolher a justiça e a misericórdia que Ele nos oferece. Será grande a nossa alegria quando tudo o que foi vitória aparente for lançado ao fogo eterno, e tudo o que foi desprezado neste mundo for elevado à glória do Céu.

Deus abençoe o seu Advento!