Carta Encíclica - Fratelli Tutti (Capítulo II – Um estranho no caminho)

Papa Francisco


Carta Encíclica - Fratelli Tutti

Capítulo II – Um estranho no caminho

 

Com uma parábola contida no evangelho de Lucas, no capítulo 10, dos versículos de 25 a 37, o Papa Francisco deseja com o presente capítulo ajudar a luz da palavra iluminar a vida dos leitores de sua encíclica. Antes de propor ações, que visem contribuir para uma amizade social, uma fraternidade evangélica, sua santidade deseja a partir da palavra fazer com que os homens e mulheres de boa-vontade, a refletirem sobre suas práticas, reconhecendo quem pode ser o entranho no caminho. O estranho no caminho é o mesmo tempo aquele que acolhe e prática a misericórdia de Deus.

A perspectiva que se encontra com a parábola lucana nos ajuda a perceber, que sempre na história da salvação, segundo nos apresenta a sagrada escritura, a humanidade teve dificuldades para acolher aquele que se apresenta estranho. Os próprios judeus possuíam o costume de acolher e amar apenas aquele que faziam parte de sua nação, restringindo o horizonte da acolhida e do cuidado. Com a vida de Jesus, o horizonte de hospedar, de acolher integralmente quem chega é alargado, e se torna sobretudo uma obra de misericórdia, uma ação de restauração. É o amor de Deus, manifestado na vida de Jesus, que consegue romper com limitações ou atitudes de fechamento para com os necessitados ou peregrinos, pois fomos criados para o amor, a plenitude da vida cristã.

A história se repete em todas as culturas, sobretudo em países que necessitam abrir suas fronteiras para acolher peregrinos advindos de regimes violentes, guerras ou da extrema pobreza. O homem, mesmo já tendo sua vida marcada pela salvação, manifestada em Jesus, virou seu coração para os valores que conseguem iluminar a todos: povos e nações.

Uma nova atitude é possível, e por isso, Francisco ao longo da sua encíclica faz diversas observações que podem contribuir para um novo modo de agir, ponto que será abordado no capítulo seguinte. Não é possível ficar na idealidade quando a realidade, do sofrimento, de morte, de um semelhante só cresce. É possível recomeçar, olhar cada caso pelo olhar divino da misericórdia, buscando salvaguardar a dignidade dos homens e mulheres feridos por sociedades cada dias mais fechadas, fruto do egoísmo, que mata, oprime e aprisiona.

“Além disso, acreditamos que Cristo derramou o seu sangue por todos e cada um, pelo que ninguém fica fora do seu amor universal. E, se formos à fonte suprema que é a vida íntima de Deus, encontramo-nos com uma comunidade de três Pessoas, origem e modelo perfeito de toda a vida em comum.” FT 85

Quem é o meu próximo? Para um cristão o próximo é pessoa de Jesus, que merece o nosso amor, nossa acolhida e promoção humana, em todas as suas esferas. Jesus está presente na vida daquele que eu encontro todos os dias, encontro a margem e no centro das minhas atividades, mas são todas essas pessoas que precisam ser amadas e acolhidas. Tal transformação é singular, mas possui apelo comunitário, social, e depende de uma vocação cristã bem fundamentada, que não exclui, mas integra e promove a unidade.

 

Equipe Nossa Senhora do Bom Parto – Santo André B