A PRIMEIRA IMPRESSÃO É A
QUE FICA?
(texto elaborado pelo Diácono Camilo)
Quando contemplamos o toque de um
instrumento musical nossos sentidos ajudam a nossa sensibilidade no
reconhecimento da beleza do som, o que nos proporciona a capacidade de abafar o
barulho cotidiano para se enamorar com as notas balbuciadas em cada instante
que o gênio musical expressa o seu sentimento.
Agora, quando, ao invés de um
único instrumento que já se faz capaz de mexer com a rotina de nosso querer,
somos surpreendidos com o agregar de uma quantidade de instrumentos diferentes,
onde cada um possui a sua maneira de expressar os sons, às vezes, uma
diversidade de melodias e até mesmo letras que são permeadas de sonhos,
projetos e histórias das mais diversas, é aí que se torna possível enxergar um
novo horizonte.
A dificuldade para nós,
inexperientes na arte de conduzir, é a de fazer desse amontoado de vontades se
transformarem num conjunto de realizações; conjunto este que respeite as
limitações, o que cada um pode oferecer de melhor e o que pode ser
potencializado quando há cooperação, paciência, comunhão na perspectiva de se
harmonizar as diferentes notas, construindo uma canção que seja capaz, não só
de emocionar, mas gerar o conjunto, e refletir para fora dela verdadeiras
experiências de generosidade, carinho e amor.
Sabe-se que ao se abrir para o
amor conjugal, a princípio, pode parecer que nada vai atrapalhar, e que a
explosão de felicidade será por toda vida.
Diante de um contexto em que o
novo é atrelado ao descartável, somos convidados a refletir cotidianamente
sobre as relações.
É no dia-dia, nas pequenas coisas
que as marcas são deixadas. Quando não observadas geram cicatrizes que por muitas
vezes são as motivadoras para o esfriamento das relações. É preciso “afinar” as
cordas das tensões, observar a respiração para que não se perca o tom e ter a
sensibilidade para perceber que o amor deveria estar nos pequenos detalhes.
Deus na criação entregou ao homem
e à mulher um grande presente - três dons: a identidade, o trabalho e o amor.
A identidade é o “DNA”, ou seja,
todos são filhos e filhas de Deus, participantes da bela “ciranda” trinitária.
O trabalho não é para escravizar, mas para dar a dignidade real, pois homem e
mulher são os responsáveis por toda a criação. O amor conjugal é expressão do próprio amor
Deus. O casal se ama não com o seu
próprio amor, mas com o amor que é doado por Deus.
A coerente conjugação destes três
dons direciona o amor conjugal no caminho da santificação, ou seja, quanto mais
se conhece a vontade de Deus, mais o casal abraça a liberdade que contribui na
realização do bem.
Deste modo, compreendemos o
sentido de cada ação, sejam aquelas pessoais, sejam as coletivas. Os sonhos e
projetos quando se tornam realizações influenciam todos os âmbitos, em menor ou
maior proporção.
Não se está sozinho e nem se
precisa perder a individualidade quando se assume a possibilidade de fazer do
querer pessoal um emaranhado de quereres.
Quando o casal se aventura
assumir o papel de cristão, percebe-se que a caminhada deixa de ser uma
aventura e o papel passa a se tornar vida quando se compreende o sentido da
vivência a dois. Nota-se que não é
preciso ser maestro e nem musicista para poder conduzir ou gerar melodias nas
vidas daqueles que ainda não tiveram a oportunidade de se deliciar com as notas
transformadoras.
Perceber que nem sempre a
primeira impressão é a que fica, mas que os encontros e desencontros que a vida
ensina a experimentar são oportunidades de mergulhar; de se fazer escolhas; de
errar tentando acertar; de acreditar, às vezes, ainda sem ter compreendido; de
compreender acreditando; e de crer vivenciando.
Fazer parte da orquestra divina é
dar-se a chance de ouvir as notas, de ousar interagir na melodia, mesmo que no
início não se saiba fazer a leitura das partituras, mas se compreenda que a
harmonia musical da vida se faz na entrega sincera, no doar-se sem reserva, na
compreensão das falhas e na superação mutua, tendo sempre como fundamento o
amor que é a inspiração das belas composições.
Diácono Camilo Gonçalves de Lima
Conselheiro Espiritual
ENS Imaculada Conceição